Futuro do agro, preocupação

O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), Tirso Meirelles, manifestou preocupação em relação ao pacote de R$ 30 bilhões anunciado pelo governo federal. Segundo ele, além de fortalecer as negociações comerciais com os Estados Unidos, é fundamental que o país adote medidas internas capazes de redirecionar produtos perecíveis – que correm risco de deterioração caso fiquem sujeitos à dependência de acordos internacionais – para programas de segurança alimentar, como a merenda escolar.
Embora a oferta de crédito possa representar um alívio imediato em termos de fluxo de caixa e continuidade das atividades agropecuárias, a elevada taxa de juros vigente no Brasil constitui um fator de risco significativo. Em um setor marcado por ciclos produtivos longos e por elevada exposição a variáveis climáticas e de mercado, o custo elevado do capital tende a comprometer a rentabilidade, alongando o prazo de retorno dos investimentos e ampliando a vulnerabilidade financeira dos produtores.
Meirelles também criticou a condução diplomática do governo federal diante do cenário internacional, enfatizando que a imposição de tarifas mais altas por parte dos Estados Unidos pode inviabilizar investimentos estratégicos em infraestrutura, como a melhoria da malha viária e a ampliação da capacidade de armazenamento das safras. Para ele, é essencial dissociar a esfera política das negociações econômicas, de modo a evitar que os produtores rurais – considerados um dos pilares da economia nacional – sejam penalizados por disputas comerciais.
Outro ponto destacado refere-se ao risco de endividamento em condições desfavoráveis. Taxas de juros elevadas podem gerar um efeito cumulativo de sobrecarga financeira, especialmente em caso de queda prolongada das exportações em decorrência das barreiras comerciais. Nessas circunstâncias, a redução das margens de lucro compromete a capacidade de pagamento das parcelas, resultando em acúmulo de passivos e limitando a possibilidade de novos investimentos ou de modernização tecnológica.
Esse quadro, segundo Meirelles, tende a afetar a competitividade do agronegócio brasileiro no médio e longo prazo. O direcionamento de recursos para o serviço da dívida reduz a margem disponível para a adoção de inovações, práticas sustentáveis e tecnologias avançadas – fatores essenciais diante das crescentes exigências do mercado internacional.
Por fim, o dirigente reiterou a necessidade de uma reforma administrativa voltada à redução estrutural da taxa de juros no país. "Atualmente, o Brasil apresenta a segunda maior taxa de juros do mundo, atrás apenas da Turquia. Esse cenário compromete os investimentos no setor agrícola e, por consequência, a sustentabilidade econômica dos produtores rurais", concluiu.