Reforma Tributária pode ser um estimulo ou um risco ao Brasil

12/11/2025

Reforma do Imposto de Renda: estímulo ao consumo ou risco fiscal para o Brasil?

A tão aguardada reforma do Imposto de Renda (IR) finalmente saiu do papel e promete mudar a dinâmica econômica do país nos próximos anos. O projeto, defendido pelo governo federal e aprovado pelo Congresso, amplia a isenção para quem ganha até R$ 5 mil por mês e cria uma tributação mínima sobre as altas rendas.

Por trás do alívio no bolso de milhões de brasileiros, porém, há um debate intenso: qual será o impacto real dessa reforma na saúde fiscal do Brasil?

Alívio para a classe média e impulso ao consumo

Com a nova faixa de isenção, pelo menos 15 milhões de pessoas devem ser beneficiadas diretamente. Na prática, isso representa um ganho médio de R$ 250 a R$ 300 por mês, o equivalente a quase um 14º salário ao longo do ano.

Segundo estimativas do Santander e da MB Associados, esse aumento de renda disponível pode gerar um crescimento adicional de até 0,6 ponto percentual no PIB de 2026 — um resultado expressivo para uma única medida tributária.

O economista Italo Franco, do Santander, explica que esse impulso vem do perfil de consumo das famílias beneficiadas:
"As classes de renda média e baixa têm maior propensão a gastar. Isso injeta recursos diretamente na economia, gerando um efeito multiplicador."

De fato, o governo espera que a desoneração movimente cerca de R$ 30 bilhões, entre novos gastos e redução do endividamento familiar.

Tributação dos super-ricos: justiça fiscal em foco

Para compensar a perda de arrecadação, a reforma estabelece uma alíquota mínima de 10% sobre rendimentos totais anuais superiores a R$ 1,2 milhão, atingindo aproximadamente 150 mil contribuintes.
A ideia é equilibrar o sistema tributário, reduzindo desigualdades e tornando o IR mais progressivo.

O auditor fiscal Marcelo Lettieri, do Sindifisco Nacional, destaca o caráter redistributivo da medida:
"Estamos reduzindo o tributo principalmente sobre a classe média, que consome quase toda sua renda. É uma forma de estimular o crescimento e corrigir distorções históricas."

O outro lado: riscos fiscais e inflacionários

Nem todos os analistas estão otimistas. O economista José Alfaix, da Rio Bravo Investimentos, alerta que a reforma pode abrir um rombo de até R$ 50 bilhões nas contas públicas caso a arrecadação adicional não compense as perdas.
Segundo ele, embora o PIB possa crescer 0,2% em 2026 e 0,1% em 2027, o aumento do consumo pode pressionar a inflação, elevando-a em até 0,6 ponto percentual.

Há também preocupações sobre o câmbio. Um desequilíbrio fiscal poderia elevar a percepção de risco do Brasil, levando à desvalorização do real frente ao dólar.
"Se o governo falhar na neutralidade tributária, voltaremos a uma posição fiscal vulnerável", alerta Alfaix.

Governo diz que não há impacto nas contas públicas

Apesar das projeções de rombo, o governo federal mantém o discurso de que não haverá impacto significativo nas contas públicas.
Técnicos do Senado, porém, estimam uma perda entre R$ 1 bilhão e R$ 4,5 bilhões em 2026, após ajustes feitos na Câmara dos Deputados que reduziram a tributação sobre as rendas mais altas.

A economista Silvia Matos, da FGV Ibre, avalia que o efeito líquido deve ser positivo para o crescimento, mas ressalta a importância de responsabilidade fiscal:
"O governo está certo em taxar os mais ricos, mas deveria usar esse recurso para reduzir o buraco fiscal. Não dá para se dar ao luxo de abrir mão de receita em um cenário de déficit."

Entre o estímulo e a prudência

Em resumo, a reforma do Imposto de Renda combina alívio para milhões de brasileiros com riscos consideráveis para as contas públicas.
No curto prazo, deve impulsionar o consumo e o PIB. No médio prazo, tudo dependerá da capacidade do governo de equilibrar a balança fiscal — garantindo que o benefício social não se transforme em fragilidade econômica.

Como toda grande mudança tributária, o impacto real só será conhecido com o tempo. Por enquanto, o Brasil comemora uma reforma que promete mais justiça no sistema de impostos, mas que ainda precisa provar que cabe no orçamento.