Tarifaço do Trump

29/08/2025

Tarifa de 50% sobre café brasileiro nos EUA preocupa importadores e pode encarecer a bebida para consumidores

Durante décadas, o café brasileiro entrou nos Estados Unidos praticamente isento de impostos. Esse cenário mudou após a decisão do governo americano de impor uma tarifa de 50% sobre o produto — medida que atinge diretamente o Brasil, maior fornecedor de café ao mercado norte-americano.

A taxação pressiona uma indústria que movimenta mais de um milhão de empregos nos EUA e pode resultar em aumento expressivo nos preços ao consumidor. Um dos produtos mais impactados é o popular blend de cafés, que depende fortemente dos grãos brasileiros.

Segundo importadores, o preço médio de US$ 15,99 por libra (aproximadamente R$ 194 por quilo) poderia subir para perto de US$ 24 por libra (mais de R$ 290 por quilo) com a aplicação da tarifa.

"Isso é uma loucura. As pessoas não vão pagar quase US$ 30 por libra. Isso pode matar o mercado americano para o café brasileiro", afirmou um importador de Nova York que atua no ramo há décadas.

Um mercado sem alternativa doméstica

A política tarifária tem como objetivo tornar produtos importados mais caros, estimulando a compra de itens locais e fortalecendo a indústria americana. O problema é que, no caso do café, os EUA não têm como suprir a própria demanda: o cultivo é limitado ao Havaí, Porto Rico e uma pequena área no sul da Califórnia — regiões incapazes de abastecer um mercado que consome 450 milhões de xícaras por dia.

Por isso, praticamente todo o café consumido nos EUA é importado. E o Brasil, sozinho, responde por cerca de um terço desse volume.

Estresse para importadores

Importadores relatam preocupação com a sustentabilidade do negócio. Além da tarifa, o mercado já vinha enfrentando custos elevados: em fevereiro, o preço global do arábica atingiu recordes, e no último mês os americanos pagaram em média 15% a mais pelo café torrado do que no ano anterior.

"Isso me tira o sono. É preciso antecipar fluxo de caixa e buscar formas de sobreviver ao novo cenário", diz um empresário do setor.

Apesar do receio, ele acredita que a demanda continuará: "O café é um ritual diário. Mesmo mais caro, os consumidores não vão simplesmente abrir mão da bebida."

A importância do Brasil para os EUA

Os Estados Unidos são o maior importador e consumidor de café do mundo, e também o principal destino das exportações brasileiras. Só nos primeiros sete meses de 2025, foram importadas 3,7 milhões de sacas do Brasil, segundo o Conselho dos Exportadores de Café (Cecafé).

Com o consumo norte-americano em alta — crescimento de 7% desde 2020, com destaque para o café gourmet (+18%) —, a dependência dos grãos brasileiros tende a aumentar.

Estoques dão fôlego, mas negociações são urgentes

De acordo com o Cecafé, os efeitos do tarifaço ainda não foram totalmente sentidos, pois os importadores contam com estoques que garantem abastecimento por até 60 dias. Mas se não houver avanço nas negociações para incluir o café brasileiro entre as exceções, os impactos devem chegar rapidamente ao consumidor.

"As indústrias estão em compasso de espera. Os pedidos de prorrogação começam a aparecer e isso é extremamente prejudicial ao setor", afirma Márcio Ferreira, presidente do Cecafé.

Conclusão

O café é insubstituível no dia a dia dos americanos, mas a tarifa de 50% ameaça encarecer significativamente o produto. Para importadores e produtores brasileiros, o desafio agora é pressionar por negociações diplomáticas que aliviem o impacto, preservando tanto o mercado consumidor nos EUA quanto a competitividade do café brasileiro.