Impactos de Trump no agronegócio
Embora seja cedo para determinar o impacto no setor, é certo que os consumidores americanos arcarão com a conta final
Tarifas de Trump e o agronegócio brasileiro: saiba como o país pode se dar bem Foto cedida: Secretaria de Agricultura e Abastecimento de SP
Após o tarifaço anunciado pelo presidente americano Donald Trump, que taxou alguns produtos de todo o mundo, o Mundo Agro foi descobrir o que pode afetar ou beneficiar o agronegócio brasileiro.
Para o professor da FGVAgro, Felippe Serigati, ainda é cedo para saber quais serão os impactos no segmento. Os EUA importam do Brasil café, carne bovina, suco de laranja e etanol.
"Vamos pensar então nos produtos que a gente exporta para os Estados Unidos. A tarifa é de 10%, mas a gente não tem grandes concorrentes nem mesmo dentro dos Estados Unidos", ponderou Serigati.
Os EUA não têm grandes cafezais. Se eles não comprarem do Brasil com a taxa de 10%, será que irão comprar do Vietnã, que teve a taxa maior? Ou da Colômbia com a mesma taxa? "A gente está na tarifa mínima. Então, o resultado disso é que o consumidor americano vai pagar mais caro para ter acesso ao mesmo café", explicou Serigati.

O mesmo acontece com o suco de laranja. O professor comentou que o Brasil e os EUA já foram grandes concorrentes. "Mas os pomares da Flórida reduziram muito de tamanho e de dimensão. Então, hoje, a produção dos Estados Unidos de laranja é bem limitada. Eles dependem do suco de laranja brasileiro para abastecer seu mercado interno", disse Serigati.
Saiba como Trump pode beneficiar o agronegócio brasileiro
O cenário de importação americana de carne bovina é o mesmo. "Exportamos bastante carne bovina para os Estados Unidos, nosso segundo maior e principal destino, depois da China. Isso ocorre porqueo rebanho dos Estados Unidos está numa situação muito limitada, com o menor rebanho bovino desde os anos 1970", comentou o professor.
No etanol, há mais uma concorrência entre Brasil e EUA. "A gente exporta etanol para a Califórnia. E é o etanol que tem uma maior redução de emissão de carbono equivalente. E essa redução o milho não consegue atingir. Tem que ser o etanol de cana. Mas nem todo etanol de cana consegue fazer isso. São algumas usinas aqui no Brasil que estão certificadas. Então, o resultado é que esse etanol vai chegar mais caro lá na Califórnia. Não tem para onde fugir", explicou Serigati.
Ele reafirma que o impacto principal será sobre o consumidor americano, que vai pagar mais caro. "Brasil e os EUA são competidores por produtos agropecuários no mercado internacional. Então, é a verdadeira retaliação. A China vai retaliar. A Europa vai retaliar. O universo agro dos EUA é uma base de apoio do Trump", disse Serigati.
O professor acredita que essa situação pode abrir oportunidades para o Brasil. Para ele, quem deve sentir os impactos das medidas de Trump é a indústria brasileira.
"Porque a China, principalmente, e as economias do Leste Asiático precisam do mercado americano. E os produtos deles vão chegar mais caros para o consumidor americano. E aí sim, essas economias podem sentir esse impacto. Vender menos manufatura para os Estados Unidos. Só que eles precisam desovar a sua manufatura. E podem vir para outros mercados de maneira mais agressiva.
Entre esses mercados, certamente, está o Brasil. Isso tem acontecido, por exemplo, com os carros elétricos. Estamos vendo as ruas brasileiras sendo inundadas por carros elétricos de origem chinesa. E por quê? Porque há uma produção importante da China, uma indústria que precisa de demanda.
Uma demanda que estaria nos Estados Unidos e na União Europeia, mas está encontrando dificuldades", disse Serigati.